25 de abril de 2012

Beltainn

Citações sobre Beltainn


"O segundo destes festivais, Bealtaine, 1º de Maio, era tido como o primeiro dia do verão. Bom tempo e consequentemente boa saúde para os homens e animais era confidentemente esperados. Gado e ovelhas era postos no pasto de verão. A principal estação láctea começava, com abundância de leite, manteiga e queijo, e a bênção e proteção das vacas, o curral e lacticínios eram invocados com rezas e cerimônias. Alugueis eram pagos e contratos de arrendamento de terra feitos. Muitas feiras eram sustentadas nas quais ocasiões festivas para saídas familiares tanto quanto jurisdições para compra e venda de criação e outros produtos e bens. Divinação do tempo e de casamentos eram feitos. Na véspera de Maio, eram acendidas fogueiras, e em alguns distritos o gado era guiado sobre ou entre os fogos para protegê-los de malefícios. O verão era saudado pelo florescimento de flores, pela configuração de ramos verdes ou floridos ou pelos decorados arbustos de Maio. Bandos de jovens, carregando arbustos, guirlandas e outros emblemas de Maio e cantando canções de boas-vindas ao verão, iam de casa em casa recebendo presentes dos vizinhos.

O mundo invisível estava particularmente ativo na Véspera de Maio. O Bom Povo das Colinas estavam em suas festas e os humanos tinham que ser cuidadosos para não incomodar ou ofendê-los; por cuidado, cerimônia, reza e encantamento, todo cuidado era tomado para salvaguardar-se contra suas maquinações, e contra o mal da magia de humanos mal-intencionados."


DANAHER, Kevin. Irish Folk Tradition and the Celtic Calendar. In The Celtic Consciousness. O'DRISCOLL, Robert (org.). New York: George Braziller, 1981.


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"As grandes assembléias populares por ocasião das festas cíclicas eram também de caráter religioso. Havia quatro principais. Conhecemos sues nomes em irlandês (...) A 1º de maio, a festa de Beltaine cujo cardápio era: cerveja, couve, leite doce e leite coalhado sobre o fogo." referindo-se aos Druidas: "Na noite de Samhain, somente eles tinham o direito de acender um fogo para queimar suas oferendas aos deuses: os transgressores pagavam multa. Faziam outra fogueira na convenção geral do homens da Irlanda e uma terceira na noite de Beltaine em honra ao deus Bel. Nessa noite, em cada cantão da Irlanda, faziam-se passar os animais entre dois braseiros para imunizá-los contra enfermidades no curso do ano. 
O fogo era uma arma poderosa nas pequenas guerras entre reinos vizinhos. Assim o Rei Cormac pede a seu druida Cithruadh que ajude seus exércitos. 'Nada te socorrerá', responde Cithruadh, 'senão um fogo druídico. - E como?, diz Cormarc. - Ouça: que teus soldados vão à floresta e de lá tragam madeira de sorveira, pois com ela se fazem nossas melhores fogueiras. E é provável que do Sul nos respondam da mesma maneira. Quando os fogos começarem a luzir, cada um observará o seu. E se for para o sul que os fogos se voltam, será preciso perseguir as gentes de Munster. Se for para o norte, parti também vós, pois sereis vencidos, mesmo que resistais' ".
"(...) As festas faziam o papel de capitais temporárias onde se resolviam os negócios pendentes - de ordem pessoal ou pública. A festa de Beltene reunia irlandeses em Uisnech. Os homens levavam lá suas pendengas ante os juízes. As mulheres, libertas de uma casamento de um ano, escolhiam lá novos maridos e se deixavam "vender" por seus pais."



LAUNAY, Olivier. A civilização dos celtas. Rio de Janeiro: Otto Pierre Ed., 1978.


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Sobre os Druidas... "Há muitas referências à eles na Irlanda (...) Druidas sem dúvida presidiam nos festivais mantidos na velha divisão pastoral do ano, Beltain (Véspera do dia de Maio) e Samuin (primeiro de Novembro). Beltain talvez esteja conectado ao menos em nome com Belenus um dos mais antigos e espalhados deuses Célticos associados com pastorialismo cujo culto praticado no norte da Itália, sul da Gália, etc. Durante o festival os Druidas supostamente conduziam o gado entre as fogueiras. Não podemos duvidar que, no período completamente pagão, sacrifícios eram feitos nestes dois importantes festivais"

ROSS, Anne. Pagan celtic Britain. London: Cardinal, 1974.


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"O deus celta do sol era Belenos (sic), o Brilhante, cuja festa era celebrada no começo de maio, assinalando o momento em que os rebanhos deixavam as estrebarias usadas como abrigo no inverno em busca de pastagens de verão. O festival Beltaine (que, literalmente, significa "Os Fogos de Beli") também era marcado, como o Samain, pelo sacrifício humano e por enormes fogueiras, no meio das quais era passado o gado para espantar os maus espíritos que poderiam ter-se alojado entre os animais nos meses de inverno. (...) Outra proteção contra as bruxas eram pequenas cruzes feitas de galhos da árvore de freixo das montanhas - uma planta bastante venerada pelos druidas - e as pequeninas cruzes eram escondidas nas caudas do gado, enquanto os currais e as casas eram decorados com flores silvestres como a rosa da primavera.
Na região de Shetland, ascendiam-se fogueiras durante a Feira de Beltain. Os rapazes e homens adultos dançaram ao redor do fogo, considerando uma honra poder saltar entre as labaredas. Outro costume de Beltain era a passagem de um pedaço de turfa em brasa, de mão em mão, enquanto uma rima ia sendo repetida. A pessoa que tinha o pedaço de turfa na mão quando ela se apagava, devia sofre um castigo especial. Ficava de quatro, como um sinal, e os outros colocavam sobre suas costas uma carga de lixo. Mas, além disso, o festival em questão era um período no qual as pessoas permaneciam em suas casas por três dias seguidos, e o fato de se tratar da festa do deus que governava o sol era reconhecido olhando para o céu para cumprimentá-lo todas as manhãs, com as palavras: "bom dia, e mostre o seu rosto.  Assim como acontecia no arquipélago de Orkneys, esta também era uma ocasião em que os doentes visitavam as fontes milagrosas e andavam ao seu redor como se elas fossem o sol, antes de beber a água, que representava outro tributo a Belenos, considerado também um deus da cura, como o greco-romano Apolo. O mesmo costume de visitar as fontes era encontrado na Ilha de Man, onde uma fonte ainda hoje se chama 'Chibbyr Beltain'.
Mas estes teares culturais não eram propriedade exclusiva dos povos estritamente célticos. Os Mastros de Maio, erguidos nos parques de muitas aldeias inglesas, devem ter-se originado no festival ao deus-sol - as qualidades fálicas do mastro e sua associação com a fertilidade são bastante óbvias. E, por acaso não seria razoável supor que a 'Rainha de Maio', tradicionalmente a mais bonita e virtuosa jovem da aldeia, era escolhida como parceira para a divindade e, assim, era a vítima sacrifical?"

RUTHERFORD, Ward. Os druidas. São Paulo: Mercuryo, 2003. 

("Beltane", by Hamish Burgess)

Saudação ao Sol (A Ghrian)

Saudações a ti, ó Sol das estações,
Que atravessas o céu nas alturas;
Com teus passos vigorosos nas asas celestes
Tu és a gloriosa mãe das estrelas.
Tu desces ao oceano destrutivo
Sem prejuízo e sem temor;
Tu te ergues na crista das ondas serenas
Como uma donzela real em flor.


(Carmina Gadelica #316. Tradução de Bellovesos)




*Prece ou hino ao Sol, pode ser dedicado a Belenos e Belisama (porque não?!), sua companheira, em tempos de Beltainn. 
Saudemos ao Sol! Peçamos por cura, proteção, força, prosperidade e fertilidade!

24 de abril de 2012

"Eu agradeço pela minha parte"

“Na presença do meu povo,
desde o começo da vida,
Na visão dos deuses e não-deuses,
Em homenagem à imensa generosidade do universo,
Eu agradeço pela minha parte”.
(Altú Págánach, uma benção pagã).

Essa prece é muito conhecida e utilizada por druidistas e reconstrucionistas celtas. Trata-se de uma prece de agradecimento pela refeição e honra à natureza e aos deuses pela generosidade da Terra. O ato de proferir uma prece, como essa ou semelhante, antes de uma refeição demonstra, além de tudo, humildade perante os Deuses e a Mãe-Terra, que abundantemente nos oferecem frutos e alimentos. 
Nossa sociedade se acostumou com os supermercados e esquecemos muitas vezes que as verduras, frutas e mesmo a carne, não vem de fábricas ou dos próprios mercados, mas vem da Natureza, da terra ou do mar. É a ela que devemos agradecer primeiramente antes de nos alimentarmos. E em seguida, acho que todos (pagãos ou não) deveríamos agradecer em nossas preces ao animal que morreu para nos alimentar. Isso mesmo, agradecer ao espírito do boi, vaca, porco, peixe, frango ou outro animal que seja (isso para quem come carne, aqueles que optaram por uma alimentação vegetariana, não precisam, obviamente, fazer isso). Um dia seremos nós que morreremos e serviremos de alimento a outros seres, isso é inevitável e faz parte do ciclo da vida. 

Para alguns pode soar estranho o fato de agradecer ao espírito do animal, mas não para quem reconhece que o boi, a galinha e o peixe são seres vivos, e sendo vivos possuem alma, assim como o ser humano, assim como tudo que tem vida. E Tudo tem vida (os físicos modernos ou quânticos já entenderam isso). Não é uma questão de ser pagão ou não, é uma questão de respeitar a Vida. 
Reconhecer o sacrifício do outro animal, orar para que sua alma não sinta mais dor ou sofrimento, que sua próxima vida seja longa e feliz, e agradecer a Terra por sua bondade e generosidade é um ato louvável de humildade e sabedoria.
Nós, humanos, simplesmente não controlamos os ciclos da natureza, e não podemos ter certeza de que sempre teremos o pão de cada dia em nossas mesas. Ser grato a Terra e oferecer um pouco de "nossa parte" aos Deuses e Ancestrais é uma maneira de retribuir as dádivas que recebemos e esperar, de certa forma, que elas nunca nos faltem.