31 de outubro de 2012

Duas músicas (vídeos) de Samhain


"Samhain Eve" (Damh the Bard)


"Samhain Song" (Lisa Thiel)

(Uma tradução adaptada desta música pode ser encontrada no fim desse texto)

23 de outubro de 2012

A Roda do Ano e os Festivais Sagrados


(Foto de Kaarol Almeida)


As Estações (Olavo Bilac)

O inverno

Coro das quatro estações:
Cantemos, irmãs, dancemos!
Espantemos a tristeza!
E dançando, celebremos
A glória da natureza!

O inverno:

Sou a estação do frio;
O céu está sombrio,
E o sol não tem calor.
Que vento nos caminhos!
Trago a tristeza aos ninhos,
E trago a morte à flor.

Há névoa no horizonte,
No campo e sobre o monte,
No vale e sobre o mar.
Os pássaros se encolhem,
Os velhos se recolhem
À casa a tiritar.

Porém fora a tristeza!
Em breve a natureza
Dá flores ao jardim:
Abramos a janela!
Outra estação mais bela
Já vem depois de mim.

Coro das quatro estações:

Cantemos, irmãs, dancemos!
Espantemos a tristeza!
E dançando, celebremos
A glória da natureza!

A primavera

Coro das quatro estações:

Cantemos! Fora a tristeza!
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a natureza!
Já nos voltou a alegria!

A primavera:

Eu sou a primavera!
Está limpa a atmosfera,
E o sol brilha sem véu!
Todos os passarinhos
Já saem dos seus ninhos,
Voando pelo céu.

Há risos na cascata,
Nos lagos e na mata,
Na serra e no vergel
Andam os beija-flores
Pousando sobre as flores,
Sugando-lhes o mel.

Dou vida aos verdes ramos,
Dou voz aos gaturamos
E paz aos corações;
Cubro as paredes de hera;
Eu sou a primavera,
A flor das estações!

Coro das quatro estações;

Cantemos! Fora a tristeza!
Saudemos a luz do dia:
Saudemos a natureza!
Já nos voltou a alegria!

O verão

Coro das quatro estações:
Que calor, irmãs! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra destas mangueiras

O verão:

Sou o verão ardente:
Que, vivo e resplendente,
Acaba de nascer;
Nas matas abrasadas,
O fogo das queimadas
Começa a se acender.

Tudo de luz se cobre...
Dou alegria ao pobre;
Na roça a plantação
Expande-se, viceja,
Com a vinda benfazeja
Do próvido verão.

Sou o verão fecundo!
Nasce no céu profundo
Mais rutilo o arrebol...
A vida se levanta...
A natureza canta...
Sou a estação do sol!

Coro das quatro estações:

Que calor, irmãs! Cantemos
Como ardem as ribanceiras
Cantemos, irmãs, dancemos,
À sombra destas mangueiras.

O outono:

Sou a sazão mais rica:
A árvore frutifica
Durante esta estação;
No tempo da colheita,
A gente satisfeita
Saúda a criação,

Concede a natureza
O prêmio da riqueza
Ao bom trabalhador,
E enche, contente e ufana,
De júbilo a choupana
De cada lavrador,

Vede como do galho,
Molhado inda de orvalho,
Maduro o fruto cai...
Interrompendo as danças,
Aproveitai, crianças!
Os frutos apanhai!

Coro das quatro estações:

Há tantos frutos nos ramos,
De tantas formas e cores!
Irmãs! Enquanto dançamos,
Saíram frutos das flores!

***

“Da escuridão a luz, da luz a escuridão”, é um verso encontrado em muitos poemas e preces de origem e inspiração celta. Essas palavras referem-se a crença druídica de que da noite nasce o dia, do inverno nasce a primavera, e da morte nasce a vida. Para os celtas o dia começava com o pôr-do-sol, o ciclo anual começava no fim do verão, ou seja, em Samhain (novembro), e os meses, segundo o Calendário de Coligny, começam com a lua nova e têm na lua cheia o seu meio ou ápice.
Ao longo do ano druidas/druidesas e politeístas celtas celebram geralmente oito festivais. Os quatro a seguir são considerados os “grandes festivais” e foram largamente celebrados pelos antigos povos celtas:

Oíche Shamhna/Samhain (entre 30 de outubro e 2 de novembro): festival que marca o fim do verão, representa o fim e início do Ciclo e homenageia os antepassados.
Lá Fhaile Bríde/Oímealg (1 ou 2 de fevereiro): o primeiro sopro ou primeiro indício da primavera, festival de purificação e fertilidade.
Lá Bealtaine/Bealtaine (30 de abril - 1 de maio): o início do verão, ritos de fertilidade, cura e prosperidade.
Lá Fhaile Lœnasa/Lughnasadh (1 ou 2 de agosto): festival da colheita, início do outono, celebra-se a fartura da natureza e reforça-se os laços entre a Tribo e a Terra.

Além desses festivais comumente celebram-se os Solstícios de Verão (21 de junho) e Inverno (21 de dezembro), e Equinócios de Primavera (21 de março) e Outono (21 de setembro), momentos que marcam as estações e as transformações do clima e da natureza como um todo.
Alguns grupos e indivíduos acrescentam festivais ou devoções a deidades individuais ou de acordo com o clima local, como um fenômeno natural do local que tenha significado para eles. No Pacifico noroeste, por exemplo, reconstrucionistas celtas celebram um festival anual na época dos salmões. Há alguns grupos de Gales e França, que celebram um festival para Épona no mês de dezembro, e na Ilha de Man muitos pagam tributos (oferecem junco, maçã e outros sacrifícios) à Manannan por volta do solstício de verão.
De maneira geral, as estações são marcadas por mudanças do clima e da paisagem local e não da estrita observação de datas no calendário. Apesar de nos guiarmos por datas, não nos fixamos nelas, pois os ciclos da natureza não se fixam. Alguns druidistas, baseando-se no Calendário de Coligny, celebram os festivais na lua cheia mais próxima da data, e dessa forma guiam-se pelo ciclo lunar, que é mais natural do que seguir datas no calendário civil.
Os festivais sagrados são marcados não só por aspectos temporais, climáticos, relacionados aos ciclos da Natureza, mas também por aspectos míticos, simbólicos, atemporais, relacionados aos ciclos de nossa vida, seja no âmbito interior ou exterior, emocional ou físico, espiritual ou material.
Assim como a natureza vive as estações, nós também vivemos as nossas estações. Vivemos a Primavera quando somos (e nos sentimos) jovens e pulsamos energia e entusiasmo; vivemos o Verão quando estamos plenos de vitalidade, paixão e fertilidade; o Outono, quando colhemos os frutos de nossas ações e nos sentimos gratos pela generosidade do universo; e o Inverno, quando acumulamos sabedoria diante das inúmeras experiências vividas e recolhemos nossas energias dentro de nós mesmos para, enfim, devolvê-las a Terra...
Ao celebrarmos os festivais sagrados a intenção deve ser honrar os Deuses e ancestrais, fortalecendo os laços entre eles e nós, e sintonizar ou alinhar os ciclos da natureza com os ciclos de nossa vida. As dádivas provindas disso, dentre muitas, são a cura (nossa e da Terra), a sabedoria diante dos mistérios da Vida, e a compreensão serena diante das mudanças que tanto a natureza quanto nós passamos.



(Texto utilizado na roda de conversa sobre Druidismo, em 16/06/12, Belém-PA, realizada pelo Nemeton Samaúma)

Os Ancestrais e o Outro Mundo



“Bem cedo na manhã do terceiro dia depois daquilo eles viram outra ilha, com uma paliçada de bronze no centro que dividia a ilha em duas, e viram grandes rebanhos de ovelhas por lá, um de ovelhas negras de um lado da cerca e outro de ovelhas brancas do outro lado. E viram um homem grande separando os rebanhos. Quando ele lançava uma ovelha branca sobre a cerca para o lado das ovelhas negras ela se tornava negra no ato. Quando ele lançava uma ovelha negra para o outro lado, ela logo se tornava branca.” (A Viagem de Mael Duin, tradução de Endovelicon).

A proximidade com o dia de finados no calendário civil e com o festival céltico Samhain[1], nos faz pensar inevitavelmente sobre os ancestrais, nossos antepassados, e para onde vão depois que morrem nessa vida. Bem, não tenho como responder a essa dúvida com tanta certeza, pois todos nós quando renascemos nesse mundo, mergulhamos nas águas sagradas do Caldeirão do de Bran e saímos mudos, sem saber ou ter como dizer o que vimos e vivemos no “Outro Mundo”[2]. Porém, os celtas nos legaram alguns conhecimentos sobre a vida, a morte e o renascimento, e sobre nossa ligação com os antepassados. É um pouco sobre isso que conversaremos nesse encontro.
Para os Celtas antigos (e atuais), o Mar e as águas eram (são) os portais para Outros Mundos, assim como a profundidade da terra (cavernas, colinas “ocas”) e os lugares altos (montanhas, colinas). Contudo, o Mar é o local de excelência para a comunicação com Outros Mundos. No Mar do Oeste (onde o sol se põe, “morre”) é onde se acredita ser o local em que Deuses, seres feéricos e também as almas dos entes queridos habitam, e é composto por diversas ilhas (maravilhosas, paradisíacas, mas também assustadoras, perigosas). Seu guardião é Manannán Mac Lir, o bondoso e sábio rei das ondas, que guia as almas, e os homens corajosos[3], além do Mar. Além dele há também a Dama do Ramo de Prata, que na Imramm de Bran Mac Febal aparece como uma senhora bela e radiante portando um ramo prateado com maçãs douradas, e instiga Bran a viajar pelo mar e conhecer as Ilhas Abençoadas.
Nem todas as almas de homens e mulheres são dignas o bastante para descansarem nas ilhas bem-aventuradas. Algumas almas ficam perdidas entre os mundos ou se recusam a ir. Outras, por alguma lógica do Mistério, renascem tão logo morrem, e podem assumir um novo corpo humano, animal, vegetal, mineral ou outra forma de vida, nesse mundo que conhecemos ou em outro[4].
O trecho no início desse texto aborda simbolicamente a ideia de que a vida contém a semente da morte, e a morte carrega a promessa da vida. Quando nascemos nesse mundo, morremos no Outro. E quando morremos aqui, renascemos lá. A morte, definitiva, não existe de fato. A vida é um eterno ciclo de ir e vir, como as fases da lua, as estações do ano, o ritmo das marés, o percurso do sol, as ondas do mar... A eternidade existe e se manifesta nas transformações (trans = além, transcender; formações = formas, estruturas). A cobra troca de pele. A águia muda de penas e arranca as unhas velhas. Ambas se renovam, e renascem em cada mudança, em cada morte.
Nossos antepassados e pessoas queridas que fizeram a travessia pelo Mar do Oeste continuam vivas, e estão conectadas conosco pelo misterioso entrelaçar da Grande Teia. Os antigos estão em nós, seus descendentes, e nós estaremos em nossos filhos, sobrinhos e netos um dia. Manter acesa a memória e o amor pelos antepassados é fortalecer os laços com nosso passado e futuro, é guiar nossas vidas em honra, tradição e humildade[5], tal como uma chama na noite mais escura.


“Samhain, Samhain,
A noite cobre o céu.
Invoco os Ancestrais,
Vinde a nós, passai o véu!

Bem fino está o véu,
Eu vou cruzar o mar
Rumo à Porta do Tempo,
E aos que partiram vou cantar.

Samhain, Samhain,
Vimos aqui louvar.
E honrar nossas raízes
Enquanto a Roda girar.
Samhain, Samhain,
A Roda vai girar.
Aqueles que partiram
Neste canto vou lembrar!”
(Cântico de Samhain. Música de Lisa Thiel. Letra adaptada por Nemeton Lusitano).



(Texto utilizado na roda de conversa sobre Druidismo, em 20/10/12, Belém-PA)



[1] Festival sagrado para celebrar o fim e início de um novo ano/ciclo e honrar os antepassados. Realizado entre os dias 29 de outubro e 02 de novembro.
[2] No Mabinogion (compêndio de mitos galeses), na batalha pelo resgate de Branwen, muitos guerreiros são mortos ou fatalmente feridos, Bran então mergulha seus guerreiros em seu mágico caldeirão, e depois de certo tempo os homens saem vivos e renovados das águas, porém mudos.
[3] Pesquise e leia sobre as Imramma, jornadas de barco pelo mar.
[4] Na Canção de Amergin e em poemas de Taliesin fica claro que uma alma pode assumir diversas formas, pois na crença celta tudo que conhecemos e não conhecemos é vivo e tem consciência (em diferentes graus de complexidade, mas tem).
[5] Humildade deve ser entendida como saber o seu lugar, nem acima nem abaixo dos outros, mas no Seu lugar, em seu centro. É ter consciência de que não se está aqui por acaso, muitos vieram antes de você e muitos virão depois. O que você está fazendo para honrar os que vieram antes, seus antepassados? E o que está fazendo para preparar o caminho para os que virão depois, seus descendentes?

Ancestralidades: Deuses, Antepassados e Espíritos.



Não estamos sozinhos no mundo. Não estamos isolados no aqui e agora. Cada um de nós está interligado ao seu passado e futuro. Somos frutos de nossos antepassados, pais de nossos pais e mães de nossas mães, e também resultados das escolhas que tomamos em cada passo de nossas vidas. Na cultura celta e no druidismo hoje, um dos mais importantes ensinamentos se refere às ancestralidades. As três grandes famílias são formadas pelos espíritos da natureza, os antepassados e os deuses, que estão relacionadas aos Três Mundos, Terra, Mar e Céu, mas não estão limitados a apenas um deles. Essa crença está simbolizada na imagem do triskle (acima), um antigo símbolo encontrado em diversos artefatos e objetos na cultura celta, como em pedras, espadas, escudos e jóias. São três espirais que se movimentam ao redor de um centro, e todas essas espirais estão interligadas entre si, completando o círculo da vida. Você é o centro, que está conectado as espirais, recebendo influência e influenciando-as. O centro é também a essência da Vida, o Espírito, a Grande Canção, onde nascem e se expandem as espirais, e onde elas se encontram.
Abaixo veremos uma breve explicação sobre as três grandes famílias ou as três ancestralidades.

Espíritos da natureza
Refere-se a todas as formas de vida na natureza. São os espíritos dos animais, das árvores, rios, pedras, fontes etc. São nossos irmãos de penas, escamas, pêlos, e tantos outros. São os espíritos da terra, espíritos da região, e podem ser inclusive espíritos humanos que de alguma forma se integraram na paisagem natural. Em nossa região amazônica, a sabedoria popular os chama de encantados ou caruanas, e como exemplos podemos citar o Boto, a Uiara ou Mãe d’água, e Curupira.
Nós não estamos separados da natureza, e nem somos tão diferentes desses seres, os outros animais. Nós somos natureza também. Nascemos da Terra, nosso corpo é feito dela. Como alguns mitos de outras culturas, como a grega e a judaica, nos contam que nosso corpo foi criado da lama, ou seja, da mistura da água com a terra. Estudos científicos apontam que o que nos diferencia dos coelhos ou macacos, são apenas alguns genes.
O povo indígena Kamaiurá também pensa dessa maneira, como atesta a antropóloga Carmen Junqueira, no artigo “Pajés e Feiticeiros” (2004). Ela escreve a respeito de uma crença desse povo em que os seres humanos e os outros animais falavam, em um tempo remoto, a mesma língua e todos eram essencialmente semelhantes. A autora escreve:

“Quando a vida foi criada, todos os seres se comunicavam numa mesma língua, o que facilitava a união entre espécies diferentes. E, mais ainda, por trás da aparência diversa residia uma semelhança niveladora: todos eram uma concretização do fenômeno da vida e, mais, eram mortais e possuíam uma alma. O fundamento que os animava era o mesmo e a diferença de aspecto pouco significava” (p. 4).

Em um trecho de uma prece druídica a Epona, lemos o seguinte:

“Como a terra é minha carne, pedra os meus ossos, cada erva é meu cabelo, o mar meu sangue, o Sol é minha pele, minha alma a Lua, as estrelas meus sentidos, minha razão as nuvens e o vento é minha respiração”.

Logo, nós não só estamos na natureza, como a natureza está em nós.


Antepassados

Os antepassados são nossos pais e mães, tios e tias, avós, bisavós, tataravós... São nossos ancestrais de sangue e a eles devemos nossa vida e a razão de estarmos na família em que nascemos. Herdamos deles os traços físicos, a educação, a nutrição, as alegrias e as dores, e uma parte importante de nossa personalidade. Os celtas demonstravam um profundo respeito para com os antigos, os mais velhos da família e da tribo, pois eles viveram mais do que nós, viram mais do que nós e com certeza têm muito a nos ensinar. Eles representam a memória não só de uma vida, mas de uma ou mais gerações. O respeito aos mais velhos, e consequentemente a tradição e ao passado, é uma das coisas mais importantes que o druidismo ensina, e que nossa sociedade hoje mais precisa aprender. Lembrar de nossos antepassados, aqueles que já foram para o Outro Mundo e as ilhas além do Mar, respeitar sua memória, e não nos esquecer dos laços que temos com eles, são atitudes que devemos manter sempre.
Mas, não temos como nossos antepassados apenas os do laço sanguíneo. Há também os antepassados espirituais, ligados a nós, não com laços de sangue, mas de afinidade espiritual. Como druidas/druidesas e druidistas (ou politeístas celtas) temos como nossos antepassados os druidas e celtas antigos, que viveram séculos antes de nós, em terras distantes da nossa (como no nosso caso), mas que ainda assim nos influenciam e nos despertam o interesse e afinidade profunda por sua cultura e espiritualidade. São os povos gaélicos, gauleses, bretões, galeses e galaicos que viveram nas terras que chamamos de célticas (Irlanda, Escócia, Inglaterra, França, Galícia...), e que deixaram na história da humanidade profundas marcas de sua cultura, e nos inspiram hoje a (re)construir sua cultura e religião.

Deuses

Os deuses e deusas são os ancestrais mais antigos que temos. Viveram em um tempo em que o próprio tempo ainda não existia, e a Terra como a conhecemos ainda estava se formando. Os consideramos deuses porque são extremamente antigos, conhecem o(s) mundo(s) em profundidade, suas forças e seus mistérios, e por isso têm poder, porque eles são as forças do mundo, eles exprimem as forças da natureza. Muitos deuses ou deusas têm sua morada ou seu corpo formado por um rio, montanha ou colina. Alguns deuses podem ser os próprios ancestrais de uma tribo celta, que o viam como um antepassado primordial, que poderia descender mesmo de uma divindade. Se entendermos por essa forma, veremos que os deuses e deusas são nossos antepassados também. São nossos Pais e Mães primordiais e, portanto, nossa família mais antiga. A diferença é, além da ancestralidade, a enorme sabedoria que eles possuem, e também a imortalidade. No texto “Ensinamentos de Fintan”, de Bellovesos, encontra-se uma concepção muito interessante de imortalidade, e é dessa forma que compreendemos o que é ser imortal.

“A água cai do céu, corre pela terra nos leitos dos rios, descansa nos lagos, sobe nas altas ondas dos mares, retorna ao firmamento atendendo ao chamado do Sol e, quando a brilhante Grēnā assim determina, vem outra vez fazer fértil a terra. A árvore cobre-se de brotos na primavera, seus frutos amadurecem no outono, o inverno deixa-a nua e coberta de neve à espera de uma nova primavera que virá no círculo sem fim das estações. Os livros que vocês trouxeram falam de pecado, punição e morte. Não os li, não me interessam. Li o mundo. Em meu livro, a morte é porta que se abre para outro nascimento, inseparável da vida exatamente como a noite leva a um novo dia. Está escrito no mundo: tudo é passageiro na roda que começou a girar antes que o tempo existisse, que não deixará de seguir seu curso antes que o tempo acabe, pois somente aquilo que nasce dentro do tempo pode dentro dele ter fim. Imortal porque sempre renovado, vivo como o mundo vive. Por isso tornei-me testemunha de todos os reis.” (Ensinamentos De Fintan, por Bellovesos).

Deuses, antepassados e espíritos da natureza. Essas são as nossas grandes famílias. Todas interligadas entre si e conectadas a nós. Entre esses laços deve haver sempre honra, respeito e hospitalidade, e isso deve ser ensinado aos nossos filhos e aos filhos deles, pois hoje somos nós lembrando dos ancestrais e antepassados, mas amanhã nós é que seremos lembrados como antepassados de alguém ou de uma geração. Nas palavras do druida Marcos Reis (do Caer Tabebuya):

“Se deixe levar pelo sangue e ele te mostrará um caminho antigo, de nomes esquecidos, batalhas ganhas e perdidas e assim, o Rio se faz em você, e para onde ainda irá percorrer em um mundo que amanhã será ancestral de alguém”.


Meditação com os Ancestrais:

Feche os olhos, respire fundo três vezes. Veja e sinta a Terra sob seus pés, o Céu acima de você, e o Mar ao seu redor. Veja uma luz descendo do Céu tocando sua cabeça até seus pés, preenchendo seu corpo. Veja uma luz saindo do coração da Terra, subindo por seus pés e chegando até a cabeça. Veja uma luz vinda do Mar, azul e profundo, que te rodeia e preenche seu corpo totalmente. Então veja as três luzes se encontrando no seu coração, no seu centro, e formando uma espiral de luz e força. Respire fundo...
Agora veja uma árvore bela e grande. As suas raízes são fortes e se afundam no mais profundo da terra e bebem de uma água pura e cristalina. Veja na base da árvore, nas raízes, a sua família, seus parentes próximos e distantes, seus antepassados, aqueles que já se foram, e aqueles que você não conheceu nessa vida, os antigos celtas, com seus mantos quadriculados e coloridos, segurando lanças e escudos, harpas e flautas. O tronco da árvore é forte e saudável, coberto de musgo e flores. Veja no tronco da árvore todos os seres que te rodeiam, os seres de pele, de escama, de penas e folhas, os seres que voam, que andam, nadam ou rastejam. Veja a natureza como um todo, os rios, as florestas, montanhas, e sinta como há vida em tudo isso, como a natureza e os seres pulsam vida e energia. Você vê agora a copa da árvore, os seus galhos são fortes e altos que alcançam o céu e podem tocar o sol, a lua e as estrelas. Veja na copa da árvore os Deuses, os Imortais, as Forças que regem a natureza, veja Taranis, Dagda, Morrigan, Brighid, Lugh, e outros deuses a quem tens devoção.
Veja a grande árvore, veja as três grandes famílias. Agora perceba que a árvore é você. Você é a árvore. E as três grandes famílias, os Ancestrais, estão ligados a você, e você a eles. Mantenha fixa essa imagem. Agradeça e honre. Respire fundo. E abra os olhos.


(Texto utilizado na roda de conversa sobre Druidismo em maio de 2012, em Belém-PA)

13 de outubro de 2012

Conexão com o mundo natural


Por Ladytoad
(Tradução de Bellovesos, disponível no site: www.bellovesos.multiply.com)

"Um exercício sobre PERCEPÇÃO.

Deite-se na grama.

Feche seus olhos e tente sentir os ritmos da terra.

Sem a visão, você deve confiar em seus outros sentidos.

Esvazie sua mente de pensamentos mundanos e concentre-se apenas em sentir e ouvir.

Aproxime sua orelha do chão.

Você pode escutar o movimento dos insetos ocupados em seu trabalho?

Se você escutar atentamente, as pulsações da terra viva se tornarão claríssimas.

Permita que elas entrem no seu corpo.

Relaxe.

Deixe que elas se fundam às batidas do seu coração até seu corpo não se sentir mais destacado e separado da terra. Permaneça nesse exercício por, ao menos, 15 minutos.

Esse exercício poderá parecer difícil em suas primeiras tentativas. Ficamos acostumados a andar sobre substâncias feitas pelo homem, com nossos pés cobertos por solas e protegidos contra a terra. Esquecemos da conexão que nossos ancestrais conheciam bem. Mesmo em sua primeira tentativa, você sentirá alguma coisa.

A memória ancestral será forte dentro de você se você se permitir lembrar. A unidade com a terra é parte de nossa consciência evolucionária genética. Precisa apenas ser despertada. Quando você estiver pronto para reingressar no mundo quotidiano, pegue um diário. Anote o que você sentiu e ouviu. Tente lembrar-se de todas as palavras que você conhece que possam trazer à vida sua experiência.

Você pode encontrar-se descrevendo sensações por meio de cores, aromas, sabores. Seu corpo sabe como seus sentidos se conectam. Permita ao seu inconsciente descrevê-lo para você. Deixe que as palavras fluam. Confie no que que está dentro de você - não somente naquilo que seu cérebro lógico, treinado na escola, lhe diz. Na próxima vez que você fizer esse exercício e o registro no diário, observe sua reação, releia. Veja o quanto sua nova tentativa foi diferente da sua primeira vez. Esse exercício não é algo que você vai fazer só uma vez. Deve ser repetido de novo e de novo até você realmente sentir a conexão outra vez. Você se beneficiará com um nível mais baixo de "stress", com uma meditação em nível mais profundo, com uma compreensão maior de si mesmo e do seu lugar no esquema das coisas."

Texto original em: <http://www.adf.org/rituals/meditations/connecting-with-the-natural-world.html>.

Druidismo e Wicca: semelhanças e diferenças



Essa é uma questão recorrente entre as pessoas que estão começando a estudar o Druidismo, e em diversas listas de discussão na internet esse tema costuma aparecer. Então, com a intenção de esclarecer um pouco sobre as semelhanças e diferenças que há entre Wicca e Druidismo fiz esse breve texto.


* Semelhanças:

- Ambas são tradições pagãs (de paganus, do latim, refere-se a uma pessoa "que vem do campo" ou "que mora no campo", tendo uma forma de vida e religiosidade ligada ao meio natural. Por mais que hoje a maioria de nós seja urbanus, pretendemos resgatar alguns valores dessa forma de vida ligada a natureza).

- Entendem a natureza como sagrada. A Terra é um sistema vivo, uma teia de ligações entre todos os seres e reverenciada como Mãe-Terra. Na Wicca é honrada por meio de diversas deusas telúricas (como Gaia, Démeter, Hathor, Inanna, entre outras), e no Druidismo a Terra é Erin, Danu, Aetegina e outras, dependendo da tribo celta.

- Reverenciam vários Deuses e Deusas.

- Acreditam na imortalidade da alma e no renascimento da mesma.

- Acreditam na existência de outros mundos, paralelos ou transcendentes ao mundo material.

- A mulher e o feminino apresentam funções e características tão importantes e sagradas quanto o homem e o masculino, mas em algumas tradições da Wicca o foco no feminino é mais acentuado.

- Celebram os festivais sazonais e observam as mudanças da lua.


* Diferenças:

- No Druidismo reverenciamos os Deuses e Deusas Celtas, de um (ou mais) foco (celtibérico, gaélico, bretão, galês...), enquanto que na Wicca costuma-se reverenciar Deuses de diversos panteões (grego, celta, egípcio, nórdico...).

- No Druidismo não há uma crença focada em uma Deusa Mãe e seu Consorte, como é na Wicca, e sim em vários Deuses e Deusas (Celtas), entre as quais há deusas que são Deusas-Mãe. Além disso, no Druidismo não há a crença de que “todas as deusas são uma deusa, e todos os deuses são um deus”. Cada divindade possui características, atributos, funções e preferências bem distintas (a exceção de divindades consideradas pan-célticas, com o mesmo ou semelhante nome e características, indicando serem uma única divindade adorada em diversas regiões, como Lugh/Lug/Lugus/Llew; Brighid/Bríde; Nuada/Nodens/Ludd; Manannan/Manawyddan...).

- Na mitologia celta os deuses não têm obrigatoriamente características solares e as deusas lunares. Há deuses associados a Terra, a agricultura, enquanto que há deusas associadas ao sol, a guerra, como Brighid, Áine e Morrighan. Os deuses e deusas celtas são complexos demais para serem enquadrados somente em algumas qualidades como fazem algumas pessoas com as divindades gregas, por exemplo, em que costumam-se classificar Afrodite, como deusa do amor e da beleza; Hades, deus da guerra e submundo; Poseidon, deus do mar, e por aí vai.

- Os festivais tradicionais celtas - Samhain, Imbolc, Beltane e La Lunasa - são celebrados por todos os grupos e indivíduos que seguem o Druidismo, mas nem todos celebram os solstícios e equinócios. Além disso, os ritos seguem uma liturgia diferenciada da Wicca. Litha, Ostara, Lammas, Mabon e Yule não são termos e expressões usadas por druidas, celtistas e RC's, já que são palavras oriundas do germânico e inglês antigo. No Druidismo não celebramos “esbats”, mas observamos a mudança da lua e suas influências, ficando sob a preferência de cada grupo ou indivíduo celebrar ou não suas fases (geralmente a cheia e a nova, que marcam o ápice e o início de um mês).

- Nos rituais de Druidismo e RC, geralmente, não se invocam os quadrantes ou os quatro elementos, como na Wicca. Dependendo do grupo ou pessoa, chama-se pelos 4 Ventos (ou 12 Ventos), pelas dádivas das direções (de acordo com o mito irlandês "Divisão das Terras de Tara"), chama-se as Três Famílias (Deuses, Ancestrais de sangue e Espíritos locais) ou os símbolos da Árvore, o Fogo e a Fonte (liturgia da ADF), procurando sempre um precedente ou base na mitologia, cultura e folclore Celta. Convidamos (e não “invocamos”), com um sentimento de amizade, hospitalidade e honra, nossos Ancestrais e os Deuses a nos acompanharem, protegerem e abençoarem durante e depois do rito.

- Não utilizamos o athame, a vassoura e outros instrumentos próprios do ocultismo. Aliás, os rituais e encantamentos druídicos são mais próximos da magia natural, espontânea, do que da magia cerimonial ou da "Alta Magia".

- Não misturamos divindades de culturas diferentes em um mesmo ritual, muito menos em um ritual que se proponha ser céltico. O que não quer dizer que seja proibido ou errado um druida ou druidesa, celtista ou RC sentir afinidade por um deus ou deusa de outra cultura, como Shiva, Deméter ou Ísis, e nem é errado ou proibido essa pessoa dedicar uma oferenda, prece ou ritual a outros deuses, mas é errado afirmar que essa prática é celta ou druídica.

- No Druidismo não há a crença ou culto na deusa tríplice Donzela-Mãe-Anciã. Existem deusas tríplices ou trinas (como Brighid, as Morriganas e as Matronas), e deuses (como Esus-Teutates-Taranis), mas, no caso das deusas, não são vistas em face de donzela, mãe e anciã. Geralmente as três deusas, que são irmãs ou aspectos da mesma deusa, possuem característica de "mãe" e mesmo suas faces em representações em tabuletas e estatuetas são comumente de mulheres jovens ou maduras, e não uma sendo jovem, outra madura e outra anciã.
Matronas

- Os celtas não cultuavam uma Grande Deusa e seu consorte, Deus Sol, Cernunnos ou quem seja. Não há nenhum registro histórico e mitológico que comprove isso. Os celtas eram politeístas e reverenciavam várias Grandes Deusas e Deuses. Para uma tribo a sua "Grande Deusa" poderia ser Epona, para outra a Morrighan, assim como o "Grande Deus" poderia ser Lugh para um clã, Manannan Mac Lir para outro, ou Dagda para outro. Mas ainda assim, o culto não se centrava em um ou dois deuses apenas.


Wicca e Druidismo possuem aspectos em comum, mas há diferenças e particularidades que devem ser observadas e respeitadas. Não queremos aqui "demarcar fronteiras" entre duas religiões, ou promover discriminação de uma para outra. Longe disso! Respeitamos a Wicca, assim como as outras religiões que existem no mundo. Apenas não concordamos quando vemos pessoas afirmando erroneamente que Wicca e Druidismo são a mesma coisa, que a Grande Deusa e seu consorte eram cultuados pelos celtas, que os celtas vieram de "Atlântida" ou outra coisa parecida.
Respeitar as tradições culturais e históricas de um povo, seja ele celta, grego, egípcio, eslavo ou indígena brasileiro, é ser verdadeiro consigo mesmo e com os outros, além de ser uma atitude fundamental para o reconhecimento e valorização dessas culturas.
De qualquer maneira, reconhecemos os wiccanos como irmãos, pois honramos juntos a Terra e suas formas de vida, estamos juntos contra a discriminação e somos a favor da paz entre os povos, as religiões e todos os seres. Wicca e Druidismo apresentam formas diferentes de entender e se relacionar com o Sagrado, cada uma a sua maneira. E se um ou outro Caminho faz sentido para você e te faz bem, então, é isso que importa... Sua felicidade, seu bem-estar e seu sentimento de plenitude com o divino e o que lhe rodeia.


10 de outubro de 2012

Celebrando a Lua Vermelha


(Shakti, o divino feminino, esposa divina de Shiva na mitologia hindu)


Cada vez mais mulheres estão ressignificando seu sangue menstrual, buscando em tradições e Deusas antigas a inspiração que precisam para (re)sacralizarem seu sangue e seu ventre. Mas ainda assim, existem muitas mulheres que crescem ouvindo que seu sangue (e corpo) é sujo, impuro, profano.
O movimento cultural e espiritual de fortalecimento e reconhecimento (não gosto muito de usar o termo “resgate”) do Sagrado Feminino está se espalhando pelo mundo, felizmente, como um sussurro, um sopro da Mãe Terra nos corações de homens e, sobretudo, das mulheres. A meu ver, o movimento do Sagrado Feminino vai além de religião, ou melhor, transcende as religiões e instituições; está presente – em maior ou menor grau - em todas elas e ao mesmo tempo não se prende em nenhuma. Seja na Wicca, nas religiões da Grande Mãe, no(s) Xamanismo(s), no Druidismo, nas correntes da Nova Era e mesmo no Cristianismo (com a Teologia feminista), o Sagrado Feminino ganha cada vez mais força, e pode ser encontrado em movimentos não necessariamente religiosos, mas também sociais, como em ONGs de apoio ao parto humanizado, associações de mulheres, grupos ambientalistas etc.
O fortalecimento do Sagrado Feminino está relacionado profundamente ao movimento da Ecoespiritualidade feminina, e muitas vezes são considerados sinônimos.
Sabemos que o ciclo menstrual está intimamente ligado ao ciclo da lua, e conectar-se com esse e outros ciclos, ou melhor dizendo, com a Ciclicidade da Natureza é se conectar melhor com nossos próprios ciclos (internos e externos) e compreender mais profundamente nós mesmas, nossos sonhos, medos, anseios, desejos, intuições... Com isso nos sentiremos mais fortes, mais seguras, sábias e saudáveis.
Há muitas formas de se conectar e honrar a sua menstruação; neste texto irei propor algumas sugestões e ideias para que cada mulher celebre a sua Lua Vermelha. A intenção é que você possa desfrutar de momentos de meditação, reflexão e magia; refletir sobre o momento em que está vivendo, perceber que o seu sangue e seu corpo são sagrados, sentir-se parte da natureza, sentir que você está no coração da Mãe Terra, e que Ela está no seu coração...


* Primeiramente, procure reduzir ao máximo o uso de absorventes descartáveis, além de ser um gasto muito grande em longo prazo, são muito poluentes para a natureza. Se puder evite usa-los, opte por um coletor menstrual. No Brasil, existe um tipo de coletor chamado MissCup

* Alguns dias antes de menstruar ou também durante a menstruação, os sonhos geralmente ficam mais intensos e significativos, por isso procure prestar atenção a eles e as mensagens que podem te trazer.

* Durante o banho, perceba seu corpo, seu ventre, seus seios, se estão inchados ou não, se algo lhe incomoda, e o porquê lhe incomoda. Perceba seu sangue, toque-o, sinta o cheiro, a textura, tenha consciência dele. Pense que todas as mulheres no mundo menstruam, é um dom que todas compartilham, todas nós estamos interligadas pelo sangue menstrual, ligadas umas com as outras, e todas com a Mãe Terra.

* Sempre que puder escute músicas que você aprecie, principalmente se falam do Feminino. Particularmente, gosto muito das músicas de Lisa Thiel, Dani Lasalvia, e algumas do Omnia (como Moon, Luna, Morrigan), mas sinta-se livre para escutar o que sua alma pedir. Músicas de dança do ventre são uma ótima ideia também, e se sentir vontade, dance e cante!

* No primeiro dia da menstruação, ou enquanto o fluxo ainda estiver forte, diante de seu cantinho especial (o altar, oratório, quintal, quarto... Enfim, um lugar em que você tenha privacidade e se sinta bem) dedique alguns minutos para meditar e celebrar seu sangue. Acenda uma chama (vela ou fogueira) e coloque água (de rio, chuva ou mineral) em um recipiente; acenda incensos também se preferir. Medite, cante, toque instrumentos (tambor xamânico, bódhran, flauta ou maracá...), ore e honre as deusas que você tem afinidade e que estão ligadas a fertilidade e ao poder femininos. Pode ser Epona, Eriu, Danu, Morrigan, Rhiannon, Aetegina, ou mesmo Afrodite, Oxum, Iacy, Pachamama, ou simplesmente o Sagrado Feminino. Acredito que em uma celebração da lua vermelha todas as Deusas se solidarizam, se interligam, assim como as mulheres menstruadas... Peça às Deusas ou a Mãe Terra que desperte e fortaleça o Sagrado Feminino em todas as mulheres. Peça pela Paz entre os povos e todos os seres, pela Cura da Terra, e também por sua própria cura. Existe uma forma de meditação/oração que consiste primeiramente em deixar a mente livre, serena, e em seguida deixar que as palavras surjam espontaneamente em seu pensamento e então proferi-las, como um mantra, uma oração. Por exemplo:

Sangue sagrado
Sangue que cura
Sangue que transforma
Sangue que inspira
Sangue da Lua
Sangue sagrado

Corpo sagrado
Corpo que nutre
Corpo que gera
Corpo da Terra
Corpo que abraça
Corpo que ama
Corpo sagrado

Ventre sagrado
Ventre que gera
Ventre que cria
Ventre que purifica
Ventre que acolhe
Ventre fértil
Ventre sagrado

...

       * Ofereça seu sangue menstrual para a Mãe Terra. Esse foi e ainda é um costume ancestral. Mulheres indígenas de tribos nativas dos EUA se reuniam na tenda da lua ou tenda vermelha durante o período menstrual e ofertavam seu sangue a Terra. No Brasil, em algumas tribos indígenas as mulheres se recolhem em cabanas específicas, sentam-se em círculo de cócoras e deixam seu sangue escorrer para a Terra, como uma forma de oferenda e ao mesmo tempo purificação. Caso você use absorventes, derrame um pouco de água nele e o esprema sobre a terra (ou em vasos de plantas), oferecendo à Mãe Terra e pedindo pela cura do planeta e da humanidade. Sinta-se grata pela Deusa Terra compartilhar com você Seu poder de fertilidade.

       * Consulte oráculos pedindo conselhos para algum momento difícil em que esteja passando.

      * Se possível, reúna-se com outras mulheres, forme um Círculo de Mulheres, troquem informações, experiências, saberes, fortaleçam-se nessa união, celebrem juntas o sangue sagrado e a alegria de ser mulher.


(Um Círculo de Mulheres)


Essas ideias aqui sugeridas foram e são frutos de minha vivência pessoal. Saiba que não é necessário você realizar todas elas, pode optar por algumas e adapta-las ao seu contexto. Fique a vontade e ouça sua intuição. Espero com isso incentivar cada vez mais mulheres a celebrarem sua menstruação e fortalecerem em si o Sagrado Feminino, independentemente se seguem ou não uma religião ou espiritualidade, pois torna-se urgente o surgimento de uma nova consciência, de uma humanidade com mulheres, e também homens, conectados com a Natureza e em sintonia com os ciclos sagrados.