29 de setembro de 2012

Canto Lunar


(Taráncon e Dani Lasalvia)

Esta é uma música que gosto muito de ouvir/cantar em noites de lua cheia. Como se fosse mesmo uma prece, cantiga e oferenda à Lua...


"Minha lua navega serena
Vai de ipanema ao céu do irã.
Para ela a moda não é tudo a guerra
Não duvida o dia de amanhã.

Minha lua corre apaixonada
E a passarada segue o seu corcel.
Oh lua, oh lua rainha
Oh a lua é minha, é de quem quiser

Oh a lua, a lua é das princesas
E com mais certeza será dos garis,
Dos cantores, dos trabalhadores
Será dos atores quando a noite cair.

E será também dos prisioneiros,
Será dos canteiros e do chafariz
Oh lua, a lua da cidade,
Da humanidade e de quem quiser.

Minha lua corre apaixonada
E a passarada segue seu corcel.
Oh lua, oh lua rainha,
Oh a lua é minha é de quem quiser.

Oh a lua, a lua é das princesas
E com mais certeza será dos garis,
Dos cantores, dos trabalhadores,
Será dos atores quando a noite cair.

E será também dos prisioneiros,
Será dos canteiros e do chafariz.
Oh lua, a lua é da cidade
Da humanidade e de quem quiser."

Lua

E porque hoje é lua cheia... E essa música cai bem =)



Prece druídica da Paz (OBOD)



Gente, vamos fazer essa corrente?
Na primeira noite de lua cheia (ou quando você puder, mas que seja durante a lua cheia), e diante da Rainha da Noite faça a Prece druídica da Paz (da OBOD) escrita abaixo e, se quiser, faça também outras orações ou pedidos pela paz no(s) mundo(s). O planeta está precisando...

Na profundidade do centro tranquilo do meu ser,
que eu possa encontrar a paz. 

Silenciosamente dentro da quietude do Bosque,
que eu possa partilhar a paz.

Suavemente dentro do grande círculo da humanidade,
que eu possa irradiar a paz.


"A cada Lua Cheia a OBOD promove meditações pela Paz. Onde quer que esteja, pode juntar-se a nós "em pensamento" nesta meditação que tem como ponto central a paz no mundo." (Ordem dos Bardos, Ovates e Druidas)

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28 de setembro de 2012

A Tradição Feérica e o Povo das Fadas

Por Monika Von Koss, em julho de 2010.


Você acredita em fadas? Não me refiro às fadinhas de jardim, mas sim aos seres etéreos, de fala doce e suave, que transitam entre nós de um modo que nem sempre os percebemos. Seres que nos falam de um mundo belo e harmonioso, isento de violência e decadência. Pois eu não apenas acredito, mas já encontrei algumas fadas em corpo humano e elas sempre são capazes de me emocionar. Tenho um grande respeito por elas, porque não é fácil para elas viverem neste mundo humano denso. E me sinto grata por se disporem a trazer sua energia perolada para diluir nossa densidade.

Se você está pensando que entrei pelo mundo da fantasia, sugiro que você leia o livro que o antropólogo americano e doutor em ciências sociais pela Universidade de Oxford, Inglaterra, Dr. W.Y.Evans-Wentz, publicou em 1911. Intitulado The Fairy Faith in Celtic Countries [A Crença nas Fadas nos Países Celtas], é o resultado de seus estudos literários e de campo a respeito da crença popular na existência das fadas, prevalente no folclore do mundo celta.

Na introdução à edição de 1994, Leslie Shepart escreve que este livro “é o trabalho mais acadêmico a respeito das fadas jamais publicado”. Em sua opinião, a história das fadas não apenas ilumina as origens e crenças de nossos ancestrais remotos, ao comunicarem um estado e uma atmosfera relativos à intuição, mas, principalmente, abrem a porta para a percepção religiosa.

Portanto, eu convido vocês a mergulharem no misterioso mundo das fadas. Não o mundo das fadas dos contos infantis, mas o mundo do povo feérico, os antigos habitantes das ilhas britânicas, que ainda vive nas crenças e ritos dos camponeses do País de Gales, da Irlanda, da Escócia e da Bretanha, principalmente.

A palavra inglesa ‘fairy’ [fada] deriva do francês antigo ‘faerie’ e do latim ‘fata’, referindo-se ao destino, no sentido daquilo que nos está fadado. Mas como não vou falar aqui de destino, seguirei a sugestão de R.J.Stewart, estudioso da tradição do Submundo Celta, do qual a tradição feérica é o ramo principal, e utilizar a designação ‘feérico’ [faery] para este povo, contornando não apenas a idéia das fadas como devas da natureza, mas também a idéia de que se trata apenas de pequenos seres femininos.

Na concepção céltica, os seres feéricos são seres viventes que estão a um passo, a uma mudança de percepção, da humanidade. A tradição feérica, nas palavras de Stewart, “é o fundamento de toda espiritualidade, religião e magia. Assim, se quisermos trabalhar para transformar nosso planeta exaurido e abusado, é uma boa tradição para explorar e o reino feérico é um bom lugar para começar.”

Os irlandeses nos legaram o mais antigo documento que tenta explicar a história arcaica do povoamento de sua ilha. Lemos n’O Livro das Invasões que a quarta e penúltima invasão ocorreu pelos Tuatha Dé Danann, o povo da deusa Dana, que trouxeram consigo a religião, a ciência, a profecia, a magia e os talismãs sagrados. Num trabalho magistral, Peter Vallance, estudioso da tradição celta e exímio contador de histórias, nos relata como os filhos da Deusa Dana vieram para moldar a Terra.

Os filhos da Deusa Dana estavam reunidos para ouvir Bride cantar. Com sua voz celestial, ela cantou de um mundo caótico e aterrador, uma terra envolta em águas escuras e repleta de monstros, que se devoram uns aos outros. Aengus, o mais jovem de todos, pediu para ela parar de cantar deste lugar, tirá-lo de sua mente como se tivesse sido apenas um sonho.

Mas Bride havia ouvido a Terra se lamentar a noite toda, porque havia sonhado com a beleza, com a quietude do amanhecer, com a estrela que brilha antes do nascer do sol e com a música celestial de Bride. E porque a Terra havia sonhado com a beleza, Bride decidiu que iria cobri-la com seu manto. Então alguns dos deuses se dispuseram a ir com ela e limpar um lugar para ela depositar o seu manto.

Levando consigo a Espada da Luz, a Lança da Vitória, o Caldeirão da Plenitude e a Pedra do Destino, eles desceram como uma chuva de estrelas, com o objetivo de construir poder, sabedoria, beleza e generosidade de coração para a Terra.

Olhando para baixo, viram a escuridão que envolvia a Terra. Viram o fundo do abismo, onde a vida torturada nascia, crescia e devorava a si mesma sem misericórdia. Então Nuada, empunhando a Lança da Vitória, desceu como uma chama para a escuridão. Assim como os humanos pisam as uvas, Manannan esmagou os monstros, até estar coberto de restos de carne e osso. Nuada girou a Lança da Vitória em torno si, até ela se tornar uma roda flamejante, cujas chamas e chispas transformavam a escuridão, transformando o sangue em carmesin, em vermelho rosada, em esplendor rubiáceo.

Com o espaço limpo, Bride deitou seu manto sobre a Terra. Ele se espalhou como uma chama prateada, fazendo recuar tudo que estava podre. O manto teria coberto toda a Terra, se Aengus tivesse tido paciência para esperar. Mas ele pisou com os dois pés sobre o manto e a chama prateada transformou-se em névoa, que se ergueu à sua volta. Deliciado, seu riso atraiu os demais, que se juntaram a ele na névoa que envolvia a todos e os fazia parecer figuras fantasmagóricas, como em um sonho.

Então Dagda mergulhou as mãos no Caldeirão da Plenitude e tirou um fogo verde, que ele espalhou num gesto de semear. Ao ver o fogo verde, Aengus juntou-o e deixou que passasse por entre seus dedos, fazendo brilhar todas as cores da luz solar: azul, violeta, amarelo, branco, vermelho.

Enquanto Dagda semeava e Aengus brincava com o fogo verde, Manannan viu os monstros exilados esgueirarem-se na borda do manto de Bride. Ao ver os estranhos olhos vindos da escuridão, ele desembainhou a Espada de Luz e avançou em direção ao caos, fazendo-o retroceder. E uma grande onda ergueu-se no oceano, para cumprimentar a espada. Uma segunda vez ele empunhou a espada e uma segunda onda de luz cristalina e espuma ametista e azul se ergueu para cumprimentar a espada. E uma terceira vez Manannan ergueu a espada e uma terceira onda, lenta, contínua, branca como cristal, se formou e desfez, retornando para o mar.

Então Bride ergueu o manto de névoa prateada e os seres brilhantes viram claramente a Terra em que estavam. Era uma ilha, coberta de grama verde, com suaves colinas, banhada pelas ondas incessantes do mar. E decidiram que esta seria sua casa. Aqui eles viveriam e realizariam belas coisas, para que a terra ficasse feliz. Tomando a Pedra do Destino em suas mãos, Bride a depositou na grama e ela imediatamente afundou na terra. Uma suave música se elevou em volta, criando riachos plenos de água cristalina, que desaguavam em lagos calmos.

Estava criado o reino feérico, o mundo primordial, a natureza da qual nosso mundo natural se desenvolveu. E os Tuatha De Danaan reinaram na Irlanda até o advento da quinta e última invasão pelos Filhos de Mil, quando então se retiraram para o interior da terra, onde permanecem até hoje nas colinas ocas.

Habitando o que é conhecido como o ‘outro mundo’, o povo feérico detém os poderes elementais formadores da terra e para quem o mundo humano é apenas um sonho. “Assumindo invisibilidade, com o poder de a qualquer tempo reaparecer em forma humana perante as crianças dos Filhos de Mil, o Povo da Deusa Dana se tornou o Povo Feérico, os Sidhe [proununcia-se 'xi'] da mitologia e romance irlandeses. Por isto que hoje a Irlanda contém duas raças – uma raça visível que chamamos de celtas e uma raça invisível que chamamos de fadas”, escreve Evan-Wentz.

Também conhecidos como o Bom Povo, os Sidhe são formados por vários grupos ou ordens, distintas umas das outras, mas que funcionam como uma coletividade, mais próximo do funcionamento de uma colméia. Possuem uma inteligência uniforme, que encontra sua expressão máxima na figura da rainha ou do rei de cada ordem, os expoentes das qualidades e poderes inerentes a todo o povo feérico.

Os antigos povos celtas concebiam a vida como existindo em três níveis distintos, integrados e presentes em cada ser. Estes três níveis eram os mundos físico, mental e espiritual. “Nas crenças celtas, a verdadeira visão do espírito só pode ser alcançada quando você encontra a harmonia central de corpo, mente e espírito” afirma McSkimming, pois o espírito não apenas existe em planos superiores, mas existe em tudo.

Quando percebemos estes três mundos entrelaçados, fica mais fácil compreender o conceito de ‘outro mundo’, esta dimensão em que vive o povo feérico, como estando dentro e em volta de nós. Somos parte dele e ele é parte de nós. Precisamos apenas deslocar nossa percepção, para entrar em contato com ele. ”Uma vez que realizamos esta mudança de percepção, toda nossa percepção de outras criaturas viventes também muda”, escreve Stewart em The Living World of Faery [O mundo vivo das Fadas].

Você não quer tentar?



Referências

L. MacDonald, O povo dos outeiros – artigos sobre os Sidhe. Dalriada Magazine, 1993

S. McSkimming, O Outro Mundo na crença popular celta. Dalriada Magazine, 1993

R.J. Stewart, Earth Light [Luz da Terra]. 1992

R.J. Stewart, The Living World of Faery [O mundo vivo das fadas]. 1995

W.Y. Evans-Wentz, The Fairy-Faith in Celtic Countries [A crença nas fadas nos países celtas]. 1989


Fonte: www.monikavonkoss.com.br


Imagem utilizada no texto: "Lady of the wood" (de Sean Domega).

26 de setembro de 2012

Equinócio de Outono


“Vamos aproveitar para brotar no outono,
Estar no outono da vida,
Na meia-idade,
Passar férias de outono em algum lugar.
Enfim... Precisamos outonear.”
(Marta Felipe)


Diferente do que geralmente acontece em outras regiões do Brasil ou do mundo, o Outono é uma estação muito bem-vinda no norte brasileiro, e recebido com alegria, festas e alívio. Alívio porque finalmente o calor intenso e o sol massacrante começam a ceder o lugar para as chuvas, o céu nublado e um clima mais ameno.
Mesmo que não tenhamos aquele cenário clássico dos filmes e pinturas, das árvores amareladas, as folhas caídas formando um belo tapete no chão e o vento frio anunciando a proximidade do inverno, ainda assim amamos essa época. Bem, pelo menos eu. Não temos esse cenário, mas temos as chuvas serenas, que pouco a pouco se intensificam, o céu nublado, que ainda assim não impede que a luminosidade e o calor do sol nos aqueçam, e o friozinho gostoso que fica depois de uma madrugada de chuva. Sem muito calor, mas também sem o dia inteiro de chuva, o outono para nós representa o equilíbrio. É como se a natureza mostrasse-nos sua face mais calma, mais serena e madura, e como se esse seu aspecto nos chamasse para fazer um momento de pausa, reflexão e descanso. E de fato fazemos essa pausa, o mês de setembro e principalmente o de outubro é o mês que mais tem feriados no calendário paraense, por causa do Círio (festa popular católica em honra a N. Sra. de Nazaré, padroeira do Pará, dos pescadores e considerada senhora das águas). Por ser uma festa que mobiliza boa parte da população é chamada de o “Natal Paraense”, e é tradição reunir a família em um almoço, cujo principal prato é o pato no tucupi, na casa do parente mais velho, geralmente a matriarca da família.
Essa festa popular lembra um pouco o Dia de Ação de Graças, comemorado nos EUA em novembro e no Canadá em outubro, e que, por sua vez, recorda os banquetes dos povos de outrora da antiga Europa em comemoração a época da Colheita. Essas festas coincidem com o período do Outono, que é para as populações antigas e agrárias o momento da grande colheita e representa a fartura da Terra, a maturidade da Natureza, o recolhimento e descanso depois de longo tempo de plantio e cuidado com a terra, aspectos esses que se refletem nos seres humanos. O Outono é a maturidade não apenas da natureza, mas também dos humanos (macro e microcosmos). É um tempo de, sobretudo, agradecimento pela fartura da Terra e pelas bênçãos alcançadas ao longo do ano.
O equinócio de outono era largamente celebrado pelos povos antigos (e ainda o é hoje, mas claro, não das mesmas formas). Na Anatólia ocorriam festas em honra a Cibele; na Grécia e outras regiões eram realizados os ritos eleusianos ou os mistérios de Elêusis, em honra a Deméter e Perséfone; em Roma era comemorado o festival de Ceres, deusa dos grãos e da agricultura; na Lusitânia céltica (em especial na região da Galícia) realizavam-se ritos para Nábia e também para Aetegina; na Irlanda o equinócio de outono era a ampliação e finalização das festas de Lúnasa, dedicados a Lugh e Tailtiu; na Escócia, o último feixe de grãos era ceifado de formas ritualísticas e amarrado em uma figura de palha que seria chamada de “Rainha da Colheita” e estaria repleta de poder fertilizador.
Na Irlanda há um monumento neolítico, o Loughcrew (que tive a dádiva de conhecer em julho desse ano) que existe desde 5000 anos antes de nossa era e é conhecido não só por sua beleza (pois fica no cume de uma grande colina) e complexidade, mas também por estar intimamente relacionado aos equinócios de primavera e outono.

Loughcrew, Irlanda (foto de Mayra Faro)

Há um desenho, um símbolo (dentre muitos outros) esculpido na pedra central de Loughcrew que se assemelha a uma roda do sol, e lembra a roda de uma carruagem. Esse símbolo aparece em várias pedras do interior desse monumento, mas os que estão na pedra central, e há quatro desenhados ali, são particularmente especiais, pois nos dias 23 de março e 23 de setembro eles são exatamente iluminados pelo sol no instante em que ele nasce. Nesses dias equinociais a luz do sol ao entrar na tumba forma um quadrado nessa pedra, iluminando desenhos específicos, que infelizmente hoje não sabemos o significado que eles trazem, e à medida que o sol vai subindo no céu, sua luz vai fazendo um percurso na pedra central, até finalmente sumir.

Rodas do sol e outros símbolos na pedra central de Loughcrew (foto de M. Faro).


Sol iluminando a pedra central no equinócio da primavera, em março de 2005 (foto retirada do site www.knowth.com).

Sol iluminando a pedra central no equinócio de outono, setembro de 2011 (do site http://www.newgrange.com/loughcrew-sep11.htm).


Esses eventos tão marcados em Loughcrew só podem nos confirmar uma coisa: que os equinócios definitivamente tinham grande importância para os povos da Idade da Pedra na Irlanda, e muito provavelmente também para os povos na Idade do Ferro, os celtas, que entraram em contato com esses primeiros povos, influenciaram-nos e com certeza foram influenciados por eles. 

Vídeo mostrando a luz do sol iluminando a pedra central no equinócio.


Em várias regiões do mundo céltico, como a Escócia, Gales e a Cornualha, o último feixe da colheita que era ceifado reunia em si um grande poder da Deusa Terra. Alex Kondratiev, em The Apple Branch, descreve alguns costumes tradicionais relacionados ao Outono ou a “Última Colheita”. Transcrevo aqui alguns trechos, que apesar de longos, são muito interessantes sobre os ritos e festas outonais:

“Então o último feixe era pregado a uma figura, um boneco de milho, representando o espírito que era planejado a morar. Este era frequentemente um animal, normalmente um animal fortemente associado com a Deusa da Terra – a lebre, porque ela realmente poderia se esconder entre os grãos, era um animal favorito óbvio. Na Cornualha ocidental o último Feixe ou pescoço era chamado de penn-yar (o pescoço da galinha). Mas em Gales a transformação da Deusa em uma égua era um tema tão importante e bem conhecido que a figura feita do último feixe era chamada caseg fedi (colheita da égua). Quando a boneca era uma figura humana, ela sempre era a representação da Deusa-Terra, mesmo se como um agente da fertilidade ou da seca. Em partes da Escócia os dois aspectos eram muito claramente diferenciados: se a colheita era julgada como uma boa colheita, a figura era dita como sendo de uma mulher jovem (a Rainha da Colheita, a Deusa como um ser fértil e amigável), mas se a colheita tinha sido ruim, a boneca era chamada Cailleach (a velha infértil, hostil às necessidades humanas). A maioria das comunidades mantinham a figura por um ano inteiro, queimando-a ritualmente na conclusão da colheita seguinte, tão logo a nova boneca havia sido feita. Nesse meio tempo, ela seria guardada em um espaço significantemente relacionado com a terceira função: numa árvore (retornando  parcialmente, para a Terra), em uma cozinha, na igreja (onde os instrumentos de colheita eram abençoados), ou entre o estoque de semente que era mantido para ser semeado na primavera seguinte, onde era esperado que fosse ensinar aos novos grãos o poder do crescimento, passando em alguns deles sua essência.”
(...)  
“A conclusão da colheita do grão era celebrada com uma festa na comunidade, o ancestral das festas da colheita doméstica ‘que ainda subsiste em áreas rurais, normalmente como atos de agradecimento sob o auspício da paróquia. Na Cornualha isso era chamado de Goeldheys ou festa das pilhas de palha’. A boneca de milho originalmente presidia nestas festas como convidado de honra. Em várias comunidades as cenouras - porque elas eram juntadas neste tempo – caracterizavam proeminentes como um ritual de comida; e na Escócia sua aparência fálica era invocada em magia de fertilidade, conforme as mulheres as desenterravam com espadas (associadas com simbolismo vaginal) enquanto cantavam:
 Torcan torrach, torcan torrachSonas curran corr orm!Micheal mil a bhi dha’m chonuilBríde gheal dha’m chòmhnadh.Piseach linn gach piseach,Piseach dha mo bhroinn;Piseach linn gach piseach,Piseach dha mo chloinn! Fértil fenda, fértil fendaQue a boa fortuna das cenouras pontudas estejam sobre mim!Bravo Michael [i.e. Lugh] vai me doar,Brilhante Brigit irá me ajudar.O aumento de uma geração seja cada aumento,Aumento para meu útero, aumento de uma geração seja cada aumento, aumento para minhas crianças!”  
(...) 

“Depois do recolhimento da colheita o ano pode ser dito como vindo para seu próprio clabhsúr (encerramento), tanto em termos da relação da Tribo/Terra no ciclo agrícola quanto em termos do ciclo samos/giamos dentro da Terra. Com o equinócio a Escuridão novamente ganha o controle, a energia giamos fica ainda mais proeminente nos ritmos diários do mundo natural, e as energias da Tribo humana devem lutar para se realinharem com a mudança da ordem das coisas. O próprio ato de recolhimento, de se voltar para o interior, é a característica principal do giamos (como oposto à qualidade expansiva e mudança externa de samos), e uma vez as atividades de coleta e armazenamento da colheita tenha sido completada, a estação da Escuridão pode se estabelecer completamente, presenteando o mundo com um período necessário de inação, contemplação, e descanso”

     Além desses temas simbólicos, havia um outro muito presente em alguns costumes e mencionado em mitos celtas, que é a disputa do rei do verão com o rei do inverno pela união com a rainha da primavera ou a Deusa-Terra. Em outras palavras, era a peleja entre o inverno e o verão pela primavera, que dependendo da estação, ou do momento da Roda do Ano, um ou outro saía vencedor. Os equinócios são conhecidos pelo equilíbrio (em termos de duração) do dia e da noite, e simbolicamente, entre o verão e o inverno, mas passado o momento de equilíbrio um ou outro ganhará mais duração e intensidade com o passar dos dias. No caso, a partir do equinócio de outono, a noite (e o inverno) será mais longa do que o dia. E a partir da primavera, ocorrerá o contrário. Claro, isso pensando no contexto dos países célticos ou em lugares onde as quatro estações, de fato, são definidas, o que não é o nosso caso (que moramos no norte do Brasil). Mas era - e é - dessa forma que os celtas compreendiam e - o mais importante – honravam a natureza e o desenrolar de seus ciclos.
Na região norte a duração entre o dia e a noite não se altera ao longo do ano, mas é evidente a mudança do clima. De março a setembro é o calor e o sol que reinam, é o período que chamamos aqui de Verão Amazônico. E nos outros meses é a chuva e o tempo quase sempre nublado que dominam, sendo, portanto, o Inverno Amazônico.
    A batalha entre o Rei Azevinho (inverno) e o Rei Carvalho (verão), disputando pela soberania na natureza, ou entre Gwynn e Gwythyr, disputando pelo amor de Creudiladd, ou ainda entre Bríde e Beira*, disputando pelo reinado e o amor do sempre jovem Aengus (o Sol), encarnam um tema mítico muito significativo relacionado a mudança das estações e ao ciclo anual (a Roda do Ano). Por essa razão acredito que esse tema também deva estar presente em um rito de celebração de equinócio.
Pontuando o que escrevemos até aqui, sugiro três aspectos que devem estar presentes, de alguma forma, em um rito de Outono.

     1. Agradecimento à Mãe Terra pela colheita (ou seja, por todas as coisas boas que te aconteceram ao longo do ano, pelos frutos, simbolicamente falando, colhidos e pelos aprendizados adquiridos).

    2. Um banquete, tendo como “convidada de honra” a Rainha da Colheita, que pode estar representada em uma boneca de palha (ou feita com raízes de patchouli, muito encontrada em feiras de artesanato em Belém), e que no próximo outono esta será queimada e uma nova deverá ser confeccionada ou adquirida (representando o fim de uma colheita-ciclo e início de outra).

   3. A disputa entre o Inverno e o Verão, sendo que a vitória será do Inverno (é interessante que esse mesmo tema também ocorra no equinócio da primavera, e nesse caso, a vitória será do Verão). Duas pessoas podem representá-los e fazerem uma dramatização dessa batalha. Se houver uma terceira pessoa, preferivelmente do sexo feminino, ela pode representar a Deusa-Terra, a Soberania, que “entra em cena” no ápice da batalha e presenteia o Inverno com uma “dádiva” (pode ser uma espada, ou uma coroa de folhas secas ou típicas da época, um cetro ou cajado, ou um simples toque, que simboliza a sua escolha), que o dará força e o ajudará na vitória sobre o Verão. Para ficar com um aspecto mais regionalista, as duas pessoas podem ser denominadas de o Sol e a Chuva, que corresponderia ao Verão (Rei Carvalho, Gwythyr ou Bríde) e ao Inverno (Rei Azevinho, Gwynn ou Cailleach), respectivamente, tendo em vista que Sol e Chuva são atores marcantes em nossa região amazônica, e constantemente estão em “dança de guerra” ao longo de todo o ano.


 
Rei Azevinho e Rei Carvalho


      Bom, essas sugestões podem ser obviamente adaptadas para cada contexto e realidade. Pode funcionar muito bem em um grupo druídico ou pagão céltico, mas com algumas modificações pode ser que também funcione em uma celebração individual. Aí vai depender de sua vontade e criatividade. Espero que essas sugestões e esse texto tenham lhe inspirado de alguma forma, e caso você utilize algumas ideias aqui expostas para sua celebração de equinócio, depois me conte como foi!
       No mais, desejo um feliz Outono (ou Primavera, para quem está na Roda Sul) para todos!



* Mitologia escocesa. Deusas que disputam pela soberania e de certa forma pelo amor de Aengus, o Sol. Para saber mais, leia “Wonder tales from scottish myths and lengends” (Donald Alexander Mackenzie), disponível em sacred-texts.com .



19 de setembro de 2012

As Três Faces da Mulher Celta (por Jean Markale)



"Todas as sociedades, ao longo dos tempos, tentaram definir as relações do homem e da mulher, como casal e dentro das estruturas sociais existentes. Para isso, atribuíram a cada um determinado lugar, que varia sensivelmente de acordo com os costumes e as tradições de cada povo.

Entre os celtas - os antigos gauleses, os irlandeses, os bretões da Ilha da Bretanha que vieram a ser os galeses, e os bretões armoricanos - as estruturas sociais eram as de todos os povos indo-europeus; isto quer dizer que a tendência era o patriarcalismo com o homem em primeiro plano.

Mas ao analisarem-se textos jurídicos, testemunhos históricos, literários e mitológicos, é surpreendente a constatação de quanto era vantajosa a condição feminina entre os celtas em relação a algumas outras sociedades, principalmente as mediterrâneas. Por outro lado, é certo que existem analogias profundas entre os usos celtas e os usos da Índia antiga quanto às formas de casamento.

É sabido que todos os mediterrâneos, particularmente os gregos e romanos, mantinham a mulher em estado de menoridade permanente. Os celtas, ao contrário, lhe atribuíam direitos que a mulher das épocas puritanas dos séculos XIX e XX, na Europa ocidental, estavam longe de possuir.

As razões dessa particularidade são muito diversas, mas podemos citar uma essencial: os celtas que invadiram a Europa ocidental por volta do século V a.C. não eram numerosos; constituíam uma elite guerreira e intelectual, e encontraram, nos territórios que vieram a ocupar, populações autóctones de densidade bem maior, às quais impuseram sua cultura, sua língua, sua religião e suas técnicas, e das quais assimilaram alguns costumes, especialmente os referentes às relações interindividuais.

Assim, as condições muito especiais do estatuto da mulher se observam no quadro da civilização celta devem ser buscadas na herança dos povos outrora instalados na Europa Ocidental.

O que espanta é a relativa independência da mulher em relação ao homem. A mulher pode ter bens próprios, como objetos de uso, jóias e cabeças de gado. Como o sistema celta admitia a propriedade mobiliária individual juntamente com uma propriedade rural coletiva, a mulher podia dispor de tal propriedade a seu bel-prazer, vendendo-a se assim quisesse, adquirindo outras por meio de compra, de prestação de serviços ou por doação. Ao casar-se, a mulher conservava seus bens pessoais e os levava consigo em caso de dissolução do casamento.

O casamento celta, aliás, era uma instituição flexível, resultante de um contrato cuja duração não precisava necessariamente ser definitiva. A mulher escolhia livremente seu marido, pelo menos teoricamente, pois às vezes os pais arranjavam casamentos por oportunismo econômico ou político. Mas mesmo nestes casos, a moça era consultada.

Aliás, no quadro do casamento, tudo dependia da situação pessoal dos esposos. Quando a mulher possuía menos bens que o marido, era este quem dirigia a casa, sem recorrer à mulher. Mas se as fortunas do homem e da mulher fossem iguais, o marido não poderia dirigir a casa sem o consentimento da esposa. E, fato excepcional na maioria das legislações, no caso de a mulher possuir mais bens que o marido, era ela quem dirigia a casa, sem pedir sequer a opinião dele.

A História e a epopéia antiga nos deixaram uma lembrança muito viva de situações assim: isso mostra eloqüentemente que a mulher conseguira, numa sociedade patriarcal, manter uma certa predominância e uma autoridade moral incontestável.

Também é importante constatar que, casando-se, a mulher não entrava nunca na família do marido. Ela pertencia sempre à sua família de origem, e o preço pago pelo marido pela compra de sua mulher era uma espécie de compensação dada à família dela. Mas em caso de divórcio a mulher retomava seu lugar natural em sua família de origem.

Em determinadas situações, especialmente quando o marido era estrangeiro, a família constituída pelo casamento pertencia a uma categoria especial, ligada à família da mulher, e os filhos herdavam exclusivamente a família materna.

O mesmo acontecia nas famílias reais em que a transmissão da soberania se dava às vezes por intermédio da mãe, ou do tio materno; existem, tanto na literatura irlandesa quanto na literatura européia de inspiração celta, lembranças flagrantes dessa prática de transferir a herança aos filhos do irmão da mãe. O exemplo mais célebre é o de Tristão, herói de uma lenda medieval de origem celta, herdeiro de seu tio materno, o rei Mark.

Fora do casamento, existia - e durou muito tempo na Irlanda, mesmo nos tempos cristãos - uma espécie de concubinato regulamentado por costumes severos. O homem, casado ou não, podia tomar uma concubina. Se fosse casado, só o poderia fazer com o consentimento de sua esposa legítima mas, de qualquer forma, a concubina só vinha instalar-se no domicílio do homem depois de ter acertado com ele um verdadeiro contrato. Ela recebia uma compensação pessoal, assim como sua família de origem, e comprometia-se por um período limitado a um ano e nem mais um dia.

Ao termo desse prazo, a concubina podia retomar sua liberdade, a menos que combinasse um outro contrato de igual duração. Esse estranho costume, que se quis chamar de "casamento temporário" ou "casamento anual", tinha o mérito de salvaguardar a independência e a liberdade da mulher; ela não era um objeto, comprado hoje e abandonado amanhã, ela era realmente uma pessoa, com a qual se celebrava um contrato.

E se o contrato não fosse respeitado, a mulher concubina sempre tinha a possibilidade de apelar à decisão de um juiz que ela mesma escolhia entre os que eram considerados mais sábios, geralmente druidas, que, além de suas funções sacerdotais, eram verdadeiros jurisconsultos.

O contrato de casamento era no fundo um tanto provisório e podia ser rompido a qualquer momento. Assim sendo, o divórcio era extremamente fácil. Se o homem decidisse abandonar a mulher, devia basear-se em motivos graves; se não os tivesse, deveria pagar idenizações muito altas, exatamente como em caso de quebra abusiva do contrato.

Mas a mulher, por seu lado, tinha o direito de se separar do marido quando ela a submetessa a maus tratos, ou mantivesse no domicílio uma concubina que não agradasse a ela.

Cita-se com freqüência o exemplo de um druida que queria levar para casa uma concubina não aceita por sua esposa legítima. Ele quis insistir, mas sua mulher fez saber que se divorciaria, e como a mulher possuía a maior parte da fortuna do casal, o druida refletiu melhor, resignou-se e submeteu-se à vontade da esposa, renunciando à concubina.

Na verdade, embora fosse mais freqüente que os homens pedissem a dissolução do casamento, as mulheres tinham o mesmo direito, e o divórcio podia ser feito quase automaticamente, por uma espécie de consentimento mútuo. E, havendo a separação do casal, a mulher não só retomava seus bens pessoais, mas retinha também sua parte em tudo o que o casal tivesse adquirido durante o tempo do casamento.

Esta solução impedia que a mulher fosse lesada quer no plano econômico quer no plano moral, pois o divórcio não decorria de nenhuma culpa; um contrato tornara-se caduco, e o divórcio não era mais do que o reconhecimento desse fato.

É certo que o problema dos filhos apresentava dificuldade. Em princípio, os filhos pertenciam à família do pai, e estavam, assim, protegidos de qualquer injustiça, pois a solidariedade familiar intervinha em favor deles, que não eram nunca abandonados. Havia ainda uma instituição especial para crianças que estivessem neste caso: adoção, que consistia em mandar os filhos para receberem educação manual, doméstica, intelectual ou guerreira com outra família, que por sua vez criava laços entre a criança e seus pais adotivos, alargando consideravelmente o quadro da vida familiar.

Os filhos podiam herdar tanto do pai como da mãe. As meninas não ficavam afastadas da sucessão, ainda que fossem ligeiramente desfavorecidas em relação aos meninos. Mas, no todo, tanto quanto se pode observar nas épocas históricas do século V a.C. ao século XII da nossa era - a sociedade celta na Irlanda, na Ilha da Bretanha armoricana parece ter feito todo o possível para salvaguardar a dignidade, os direitos e a autoridade moral da mulher."

Texto do pesquisador Jean Markale, retirado da revista O Correio da Unesco (nº2, ano 1978).

Omnia, Pagan Folk Lore (show)

Omnia, umas das melhores, se não a melhor, banda de música (neo)celta pagã!
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Lúnasa (música irlandesa)

Um pouco de boa música irlandesa! 


11 de setembro de 2012

Deuses Gauleses


A maioria dos registros que temos sobre os deuses e deusas gauleses vem dos escritos de gregos e romanos que entraram em contato (direta ou indiretamente) com as tribos da Gália, além de inscrições em pedra, bronze e esculturas feitas pelos galo-romanos representando ou citando os Deuses. A lista a seguir é bem resumida e incompleta, mas já é uma ajudinha para começar a estudar a mitologia celta com mais profundidade. Ainda pretendo postar um breve texto sobre os Deuses da Lusitânia e Galícia, e por mais que esses ramos não sejam o foco na minha vivência druídica, é de extrema importância conhecer a cultura e mitologia dos povos celtas que viveram naquelas terras, e que como os outros resistiram até o fim contra a invasão romana.

"A Mitologia Galo-Romana e seu Panteão"
(Por Lucas Rafael, do site www.templodoconhecimento.com).

Conjunto de crenças dos povos celtas que viviam na região da Gália, nas fronteiras do Império Romano, e que teve grandes influências dos deuses latinos.
O que se conhece dessa mitologia foi redigido por escritores latinos depois do século I a.C., como Posidônio, Diodoro Siciliano, Estrabão, Lucano, Tácito e Julio César em seu “As Guerras Gálicas”, que narra a conquista da Gália por Roma.

A seguir um pequeno resumo do Panteão Galo-Romano:

Andrasta: Deusa guerreira. Aparece [associada] com a rainha Boudicca [que é devota desta deusa]. Tinha um esposo que foi identificado com Marte (deus da guerra) romano.
  
Arduinna: Deusa-ursa.

Belenos: Deus do sol e da medicina, heterônimo de Apolo.

Belisama (ou Dama, ou Ana): é a divindade solar feminina, a Minerva gaulesa. [Associada também à lua e as águas termais].

Bormo e Damona: deus e deusa das fontes e das águas termais.

Cernunos (ou Kernunnos, Slough Feg, ou Cornífero): Seu nome deve ser pronunciado como se tivesse um "k": kernunnos. Deus Cornudo, deus da Natureza, Senhor do Mundo. Comumente representado por um homem sentado na posição de lótus, cabelo comprido e encaracolado, de barba, nu, usando apenas um torque (colar celta) ao pescoço, ou ainda por um homem de chifres, sendo, por isso, erroneamente comparado ao diabo dos cristãos. Os seus símbolos eram o veado, o carneiro, o touro e a serpente. Deus da virilidade, fertilidade, animais, amor físico, natureza, bosques, riqueza, comércio e dos guerreiros. 

(Cernunnos, detalhe do Caldeirão de Gundestrup)

Dis Pater: Originalmente deus da morte e do mundo subterrâneo, eventualmente o chefe dos deuses. É dito que é o ancestral de todos os Gauleses.

Divonna: deusa das águas correntes e das fontes.

Epona: deusa dos cavalos, identificada com a galesa Rhiannon e a irlandesa Macha.

(Epona, em uma escultura gaulesa)

Esus: Ligado a Mercúrio ou Marte, seu nome significava senhor e conpunha a tríade dos maiores deuses com Taranis e Teutates.

Lug [ou Lugus]: Maior dos deuses [eu diria que foi um dos deuses mais cultuados entre os gauleses], equivalente gaulês de Mercúrio, presente também nos mitos Irlandeses. [Relacionado a guerra, ao comércio, a eloquência, as artes e as viagens, principalmente por terra].

Math: Deus gaulês da magia.

Matrona: era a divindade mãe na Gália primitiva. [Possivelmente ou seja esteja relacionada  às Matres ou Matronae, trio de deusas associadas ao lar, a prosperidade, fertilidade e conhecimento].

(Matres)

Medru: deus gaulês identificado com Mider ou Midir irlandês.

Moccus: seu nome significa porco e seu culto ligava-se ao javali.

Nantosuelta: deusa gaulesa. [Companheira de Sucellos, deusa da soberania, da prosperidade e fertilidade].



Nodens: deus gaulês identificado com o Nuada irlandês.

Ogmios: deus gaulês da palavra, fazia a ligação entre homens e deuses, era o Ogma irlandês.

Rosmerta: deusa da abundância e fertilidade.

Sirona: deusa galesa [associada às águas e a cura].

Smertrios: deus gaulês, “o provedor”.

Sul [ou Sulis]: deusa gaulesa do sol [e também das fontes termais].

Sucellos: deus que porta um martelo, identificado com o Dagda Irlandês.

Taranis: deus gaulês do trovão [associado ao céu, as tempestades e ao fogo celeste].

Teutates: o Marte Gaulês, comparado ao grande deus celta do outro mundo. O Rei Pescador dos romanos asturianos. [Seu nome na verdade quer dizer "Deus da tribo", e pouco se sabe sobre ele, mas parece estar relacionado às batalhas e a fertilidade].

Como se pode perceber apesar das muitas tentativas de absorção do mitos dos gauleses pelos romanos, eles mantêm sua identidade, visto que possuem estreita ligação com os celtas insulares, a ligação de Sucellos com Dagda, a presença de Lug em ambos os panteões e Nodens que é o mesmo que Nuada é prova mais que clara dessa ligação que dá identidade ao povo celta.

Deuses Galeses

Continuando a sequência de textos sobre mitologia celta, abaixo segue uma pequena lista sobre os principais textos mitológicos galeses, e os Deuses e personagens (não todos, porém) descritos nesses manuscritos antigos. Mais uma vez, essa é apenas uma introdução sobre mitologia celta, no caso a galesa, e o intuito é incentivar a busca e estudo mais aprofundado daqueles que se interessam pelo Druidismo e a cultura celta.


"A Mitologia Galesa e seu Panteão"
(Por Lucas Rafael, retirado do site www.templodoconhecimento.com).

A Mitologia galesa foi mais afetada por elementos externos, e seus principais escritos são:

O  Llyfr Du Caerfyddin (“Livro Negro de Caermarthen"). Aqui estão os poemas mais antigos em língua celta galesa sobre o rei Artur e o mago Merlim.

O Llyfr Aneirin (Livro de Aneirin), que contém o poema Gododdin do poeta galês Aneirin.

O Llyfr Taliesin (Livro de Taliesin), onde aparecem os relatos do livro Mabinogion.

O Llyrf Coch Hergest, o (Livro Vermelho de Hergesuno). Entre outros textos, conta com uma cópia em galês do poema arturiano Brut, os relatos do Mabinogion, e poesias de alguns bardos medievais importantes.

Livros como o Historia Brittonum de Nennius e o Historia regum Britanniae de Godofredo de Monmouth tratam do rei Artur.

O Mabinogion se encontra dividido em quatro ramos principais que são narrativas independentes, mas que se relacionam entre si. Possue também 4 contos independentes (Macsen Wledig, Cyfranc Lludd e Llefelys, Culhwch e Olwen e O Sonho de Rhonabwy) e mais três contos arturianos (Owein ou A Senhora da Fonte, Peredur, Filho de Efrawk e Gereint e Enid).

Personagens dos Quatro Ramos do Mabinogion:

Arawn: Rei de Annwvyn, submundo na tradição galesa. Deus da caça, associado aos cães.

Bran Vendigeit:  Herói do segundo ramo do Mabinogion gales, Bran “o Abençoado”, filho de Llyr, era um gigante. [No mito, ele e seu exército lutam contra o rei da Irlanda que desposou sua irmã por a ter maltratado. Na batalha muitos homens morrem, quase toda a população da Irlanda e de Gales, e Bran é seriamente ferido, mas pede que seus guerreiros cortem sua cabeça que magicamente - ora ele é um Deus! - continua a falar como se continuasse ligada ao corpo. Por muitos anos a cabeça de Bran fica no palácio, contando histórias e cantando belas e tristes canções a todos que o escutam, até que um dia Bran pede para que enterrem sua cabeça sob o palácio, para que mesmo sob a terra ele continue a proteger seu povo].
(A cabeça de Bran)


Branwen: “Corvo branco”. Filha de Llyr e irmã de Bran, esposa do rei da Irlanda Matholwch. Parece ser o aspecto poético de uma antiga divindade do  amor.

(Branwen)

Prydery: Filho de Pwyll e de Rhiannon, companheiro de Bran. Arrebatado de sua mãe o cria o rei Teyrnon.

Gilvaethwy: Na tradição galesa irmão de Ariandrod e de Gwyddyon.

Goevin: Formosa jovem em cujo colo devia apoiar os pés Math, filho de Mathonwy, para sobreviver em tempos de paz.

Gwyddyon: O Grande Druida dos galeses. Feiticeiro e bardo do Norte de Gales, seu símbolo era um cavalo branco. Rege a ilusão, as mudanças, a magia, o céu e as curas.

Lleu Llaw Gyffes: Filho incestuoso de Arianrod e Gwyddyon segundo a tradição galesa. 

Llywarch Hen: Bardo mítico da tradição galesa.

Rhiannon: Grande rainha dos galeses, Rhiannon era a protetora dos cavalos e das aves. Rege os encantamentos, a fertilidade e o submundo. Aparece sempre montando um veloz cavalo branco.

(Rhiannon, imagem de Rebecca Guay)

Gwynn ap Nud: Rei das fadas e do submundo na tradição galesa.

Gwythyr: Oposto [isto é, opositor] de Gwynn ap Nud, Gwythyr era o senhor do mundo superior, também no folclore galês. [Gwynn e Gwythyr disputam constantemente pelo amor de Creudiladd ou Cordélia, que representa a primavera].

Math Mathonwy: Deus da feitiçaria, da magia e do encantamento no folclore galês.


Personagens do ciclo arthuriano:

Rei Arthur: Rei lendário da Bretanha, unificou o reino e é em torno de seu reinado que gira todo o ciclo arthuriano. 

Bohort: Primo de Lancelot do Lago e rei de uma parte da Armórica. Encontra o Graal junto com Galahad e Perceval (o único que sobrevive nessa busca).

Edern: Filho de Nudd. Um dos mais velhos companheiros do rei Arthur. 

Elaine: Filha de Pelles, o rei Pescador.

Pelles: O Rei pescador nos relatos arthurianos franceses.

Afang-Du: O filho da deusa Keridwen ou Cerridwen, para quem fez ferver um caldeirão da ciência do qual bebe três gotas o futuro bardo Taliesin.

Tristão: Herói de uma das lendas celtas mais conhecidas. Suas aventuras rondam em volta de seu amor pela jovem Isolda.

Uther Pendragon: Pai de Arthur e rei antes dele, se deitou com a mãe de Arthur por meio das manipulações de Merlin.

Viviane: Senhora do Lago de Avalon.

Vortigern: Rei usurpador e traidor na tradição galesa.

Ygerne (Igraine): Mãe do rei Arthur e de Morgana.

Yvain: Companheiro de Arthur. É um herói civilizador que combate as trevas mas não pode viver se não sob a dependência de uma mulher.

Galahad: Filho de Lancelot do Lago e de Elaine, supera todas as provas do Graal e morre vendo o que há dentro dele.

Ginebra (Guinevere): Esposa do rei Arthur. É célebre, sobre tudo, por seus amores com Lancelot do Lago. Precisamente por isto se produz a ruptura entre Lancelot e Arthur.

Gwendolin: Nome da esposa de Merlin em a Vita Merlini de Godofredo de Monmouth.

Gwendydd: Na tradição galesa é a irmã de Myrddin (Merlin).

Gwrhyr: Velho e bom amigo do rei Arthur, que possue poderes mágicos e fala com os animais.

Kai: Companheiro de Arthur. 

Lancelot do Lago: Mias famoso cavaleiro de Arthur, tem relações com Guinevere e é pai de Galahad que acha o Graal.

Mordred: Um dos sobrinhos de Arthur e seu filho incestuoso. Era a encarnação das forças das trevas. Mata o pai e é morto por ele.

Morgana: Sua comunidade consta de um total de nove sacerdotisas (Gliten, Tyrone, Mazoe, Glitonea, Cliten, Thitis, Thetis, Moronoe e Morgana) que, nos tempos romanos, habitavam uma ilha diante das costas da Bretanha. Falam também das nove donzelas que, no submundo galês, vigiam o caldeirão que Arthur procura, como pressagiando a procura do Santo Graal. Morgana faz seu debut literário no poema de Godofredo de Monntouth intitulado "Vita Merlini", como feiticeira benigna. Mas sob a pressão religiosa, os autores a convertem em uma irmã bastarda do rei, ambígua, frequentemente maliciosa, tutelada por Merlim, perturbadora e fonte de problemas.


Nimue: Nome que Thomas Malory  dá a Viviane. [seduz e aprisiona Merlin em uma torre de cristal na floresta de Broceliande e rouba seus poderes].

Olwen: Heroína galesa, filha do gigante Yspaddaden Penkawr.

Merlin: Figura já conhecida do círculo da mitologia arthuriana, este era o Grande Feiticeiro, o Druida Supremo dos galeses. (...) A tradição diz que Merlin dorme numa caverna de cristal depois de enganado por um encantamento de Nimue. Merlin era o senhor da ilusão, da profecia, da adivinhação, das previsões, dos artesãos e ferreiros. Diz-se ainda que tinha grande habilidade de mudar de forma. [Auxilia Arthur ao longo de toda a sua vida, o que indica a antiga tradição celta da aliança que deveria entre o rei e o druida].

Taliesin: Taliesin o Bardo, foi o druida chefe da corte de Arthur, um dos maiores reis da Inglaterra. Dominava a arte da escrita, a poesia, a sabedoria, a magia e a música. Taliesin é tido como patrono dos druidas, bardos e menestréis. [É o segundo nome de Gwion, o servente de Cerridwen, que deveria cuidar da mistura que ela fervia em seu caldeirão, mas por descuido acabou tomando três gotas do sumo e adquiriu toda a sabedoria do mundo. Por essa razão foi perseguido por Cerridwen que por fim foi engolido por ela, que depois de 9 meses deu a luz a um belo menino do "semblante brilhante", Taliesin].

(Taliesin, de Selina Fenech)